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.) porquanto só de nós é quedependem, recebemos sempre a satisfação que daí esperávamos (.).Poisnão podemos desejar senão o que consideramos de alguma maneira comopossível, e não podemos considerar possíveis as coisas que só dependem denós na medida em que pensamos que dependem da fortuna (.).É mister,portanto, rejeitar inteiramente a opinião vulgar de que há fora de nós umafortuna (.), e saber que tudo é conduzido pela Providência divina, cujodecreto eterno é de tal maneira infalível e imutável que, excetuando as coisasque este mesmo decreto quis por na dependência de nosso livre arbítrio, devemos pensarque, com respeito a nós, nada acontece que não seja necessário e como quefatal (.).30Assim como, no plano do conhecimento, Descartes salva a liberdade davontade da necessidade irresistível das idéias evidentes e de seu encadeamento,graças à consideração de que a vontade pode dar assentimento ao falso esuspender o juízo no duvidoso, assim também, no plano ético, a necessidade nãoexclui o livre arbítrio, mas lhe reserva um campo próprio de ação, aquela açãoexercida sobre o desejo das coisas possíveis, pois o possível foi o que aProvidência reservou para nós31.É isto que Espinosa afirma ter demonstrado serinteiramente falso.É falso, pela Parte II, que a suspensão do juízo indique aexistência de uma vontade absoluta ou livre; é falso, pelas Partes III e IV, que odesejo seja relação com o futuro (portanto, uma falta ou uma ausência, pois éessência/potência atual) e que por isso seja uma relação com o possível cujarealização depende exclusivamente de sua determinação por nosso livre arbítrio; éfalso, pela Parte I, que haja exceções nos efeitos necessários da potência divina eque uma coisa finita possa determinar-se a si mesma para existir e agir ou quepossa indeterminar-se a si mesma depois de determinada a existir e operar demaneira certa e determinada pela potência de seu atributo.Ora, é exatamente a30DESCARTES, Traité des Passions de l Âme, II, art.144, 145, 146, AT XI, p.436-40;trad.brasileira: As paixões da alma, p.369-71 (grifos meus MC).31Sobre a moral cartesiana, cf.L.TEIXEIRA, 1954.Cad.Hist.Fil.Ci., Campinas, Série 3, v.12, n.1-2, p.9-43, jan.-dez.2002.41Imperium ou Moderatio ?definição do desejo como relação com o futuro, com o ausente e, portanto, como possível que permite a Descartes afirmar o imperium absolutum da vontade, poisfoi nela e com ela que a Providência abriu uma exceção em seus decretos, nosdeu a soberania e nos fez imperium in imperio, uma vez que há uma região darealidade que escapa das leis necessárias da Natureza, e foi exatamente isso que oPrefácio da Parte III anunciava que seria destruído e que as Partes III e IVdestruíram, destruição que foi a condição necessária e suficiente para que,finalmente, haja ciência dos afetos.Quando, portanto, Espinosa reintroduz o imperium no prefácio do Delibertate, apresentando-o como império da razão e como grau e qualidade dapotência da mente, são todas as conseqüências éticas da metafísica do possívelque estão sendo recusadas e afastadas.Em outras palavras, o De libertate é o efeitonecessário do De Deo.Se, tomando os resultados da Parte IV, considerarmos, de um lado, aarticulação entre desejo e razão e, de outro, que o jogo dos afetos é um campo deforças, e se considerarmos que a potência da razão (como potência de pensar queé desejo de pensar) está referida à força maior dos afetos racionais emcomparação com a força menor dos afetos imaginativos, e se considerarmos quea Parte V conclui o percurso da ontologia do necessário iniciado com a Parte I,compreenderemos o surgimento, tanto na Parte IV como na Parte V, daexpressão: império da razão sobre a fortuna.Assim, no escólio da proposição 47 da Parte IV, lemos:Acresce a isto que estes afetos [de esperança e medo] indicam deficiência deconhecimento e impotência da mente; e por esta razão, também asegurança, o desespero, o contentamento e o remorso são sinais de umânimo impotente.Com efeito, se bem que a segurança e o contentamentosejam afetos de alegria, supõem, todavia, que a tristeza a precedeu, a saber, aesperança e o medo
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